Um a um, entram silenciosamente na sala e sentam-se nas oito mesas ordenadas em duas filas. Não denotam nervosismo, mas é tangível uma espécie de sentido coletivo de responsabilidade. São empreendedores e sabem ao que vêm. Houve 125 projetos que se candidataram a estar aqui. Desses, 96 foram considerados elegíveis. E após um criterioso e rigoroso processo de avaliação, 17 foram selecionados. Este é o seu primeiro dia. A primeira de sete sessões que vão culminar num pitch de onde sairá o vencedor desta terceira edição do Newton – New Tourism Opportunities Network, cujo desígnio é estimular a inovação e o empreendedorismo na Região Centro no sector do turismo.
Este programa de aceleração, promovido pela Rede de Incubadoras da Região Centro (RIERC), com o apoio do Turismo de Portugal e do Turismo Centro de Portugal e realizado nas instalações do Insituto Pedro Nunes (Coimbra), distingue-se pelo seu grau de exigência extremamente elevado e pela qualidade da formação. Todos os empreendedores, para além de participarem nos workshops dirigidos por formadores do Instituto Pedro Nunes (IPN) e da Universidade de Aveiro, são acompanhados individualmente por tutores das várias incubadoras da RIERC. “Olá, sou o Diogo, o vosso tutor, vou ser eu que vos vou dar na cabeça, mas por um bom motivo”, refere sorridente, ao sentar-se na mesa do duo empreendedor por trás do projeto “Stay – People Experience Your Story”. Riem-se, apertam-lhe a mão, trocam impressões. Esse é outro gene intrínseco no DNA do Newton. O extremo rigor do programa concilia-se com a informalidade, quase familiaridade, no trato entre todos. Essa dinâmica foi percetível quando Ricardo Figueiredo, cofundador da LUGGit – projeto vencedor da edição transata do Newton e hoje uma empresa real – ofereceu o seu testemunho aos empreendedores presentes, sendo constante a interação cúmplice com Carlos Cerqueira, diretor de Inovação do IPN que, juntamente com Clara Luxo, coordena o programa. Desde o seu lançamento já houve sete ideias transformadas em empresas, tendo sido criados quase 30 postos de trabalho.
Os projetos participantes recebem um apoio financeiro de até 2.500 euros para realização de protótipo e validação no terreno. Os prémios finais, destinados aos três melhores projetos, são atribuídos em serviços de incubação (numa das incubadoras que integram a RIERC) e totalizam o valor de cinco mil euros. “Este programa capacita as pessoas financeiramente para materializar e validar todos os ensinamentos que adquirem aqui”, afirma Ricardo. A LUGGit – que foi finalista na última edição dos prémios José Manuel Alves, concurso de empreendedorismo turístico do Turismo Centro de Portugal – é uma plataforma tecnológica que permite aos viajantes requisitarem um condutor em tempo real para recolher a sua bagagem e entregá-la no sítio e hora por si definidos. Já trabalha com quase três centenas de unidades de alojamento na área de Lisboa e em breve vai expandir para o Porto. “O próximo passo é a internacionalização”, confidencia.
Segue-se um momento de apresentação onde todos os empreendedores têm de expor as suas ideias de negócio em menos de um minuto. “De pé”, frisa um dos tutores, interrompendo o discurso de um empreendedor no conforto da sua cadeira. “É uma regra aqui”, elucida, com um sorriso. O treino para o pitch começa já. Com o cronómetro a rodar, foi-se desvanecendo o mistério por trás de designações como FireUp Sports, EcoResort, Abrigo do Queijo Serra da Estrela DOP, portugal4campingcar, HotelTech, Geonatour, Smart City Concierge, iNavAR, Surfhandshape, OptiPed, pEDUquinTUR, Turismo rural e proteção/conciencialização ambiental, Like a Local, VerticalGreens, Portugal Bike Tasty, Stay - People Experience Your Story e Casas Contadas.
[No decurso do programa Newton, que se estende até dia 4 de Dezembro (apresentação oficial do pitch), o Apoio ao Investimento Turístico do Turismo Centro de Portugal irá fazer uma apresentação individual de todos esses projetos na sua página do Facebook]
Apresentações feitas, o grupo de empreendedores arregaça as mangas e centra a sua atenção no workshop "Panorama Atual e Tendências Futuras do Turismo", dirigido por Rui Costa, professor de Turismo da Universidade de Aveiro.
Após debater a política e estratégia para o turismo em Portugal, a estrutura empresarial do setor do turismo, a forma de operacionalizar a dinâmica empresarial do turismo no terreno e definir um vasto conjunto de orientações estratégicas, Rui Costa procedeu a uma análise aprofundada do turismo internacional e nacional, focando-se em indicadores como o crescimento, ofertas de alojamento, taxas de ocupação e proveitos, hóspedes e dormidas, estada média e taxa de sazonalidade.
São também explanadas as tendências internacionais do turismo, analisadas segundo os fatores macro - as tendências demográficas e sócio-culturais, económicas, ambientais, tecnológicas e dos transportes - e os fatores micro - turismo responsável e sustentável, a influência dos millenials, o boom das viagens seniores, o aumento de mulheres que viajam sozinhas, a subida dos mercados asiáticos, as experiências e a procura pela autenticidade, a nova onda de férias em família, as férias ativas e de aventura, o trabalho remoto e o nomadismo digital, o turismo gastronómico, bleisure, as viagens fotográficas e o fator espontaneidade cada vez mais preponderante nas viagens, que se traduz numa exigência cada vez maior de rapidez e eficiência.
Já são quase 19 quando o grupo desmobiliza. Daqui a uma semana segue-se a sessão “Ideação, Inovação & Proposta de Valor”, num workshop que já incluirá sessões práticas para trabalhar individualmente cada uma das ideias de negócio integrantes nesta terceira edição do Programa Newton.