19 de julho de 2018

Aprender a Falar em Público com o Tourism Up Centro


Débora entrou timidamente na sala e sentou-se na ponta da segunda fila de cadeiras. Numa tela está projetada uma imagem, acompanhada da inscrição “Falar em Público”, mas a sua atenção, tal como a de todos os presentes na sala, está focada na mala enigmática que está em cima da mesa central. Tem um estilo vintage - com o mapa-mundi desenhado a sépia num fundo de azul desmaiado – que, de certa forma, intriga o imaginário. Há momentos, todos responderam que nunca tinham participado num workshop do género. Agora, questionam-se sobre quem será o primeiro voluntário a dirigir-se à mala, onde reside a primeira lição do dia. “Lá dentro estão vários objetos. Todos devem escolher um”, referiu Filipa Cunha, formadora nesta sessão organizada pela Tourism Up Centro (programa de aceleração promovido pelo Turismo Centro de Portugal e pelos Territórios Criativos), na incubadora de negócios Alvaiázere+. 


Um a um, os participantes regressam às suas cadeiras, com objetos tão díspares como espadas de piratas ou colares de cebolas. “Agora, todos vão ter de explicar a vossa escolha ao grupo. Quero que digam o que esse objeto tem a ver com vocês”, instrui Filipa. Para já, os participantes vão poder intervir sentados nos seus lugares, sem ter de se levantar e enfrentar diretamente os colegas. “Quem é o primeiro?”. Perante o silêncio, a formadora perscruta a sala. “Débora, queres iniciar?”. 


Débora Fino tem 22 anos e é estudante de Turismo no Politécnico de Tomar. Soube desta sessão através de uma amiga de Alvaiázere, que lhe conhecia a dificuldade em falar em público. “É mais do que dificuldade, é medo”, afirma Débora. “Basicamente entro em pânico, bloqueio, não consigo dizer nada, até chegar ao ponto de desmaiar”. Relembra essa tarde “traumática” em Tomar, no auditório do politécnico. Tinha de fazer uma apresentação, em contexto de seminário, no âmbito de uma das disciplinas do curso. Já tinha manifestado a sua intenção de evitar a apresentação à professora, mas esta insistiu. “Tu consegues”. E Débora tentou conseguir. Respirou fundo dezenas de vezes antes de encarar a audiência, composta por oito colegas de turma. Levantou-se para se dirigir ao palco, mas os seus pés não lhe obedeciam. Permaneceu imóvel, com as palmas das mãos suadas e com o coração a bombear ao máximo. “Comecei a ver tudo branco, com a sensação de desmaio iminente”. Foi amparada antes de perder os sentidos. Mas nunca mais se esqueceu dessa sensação. “Teve de ser uma colega a fazer a minha apresentação, o que foi muito constrangedor”. 


“Está bem”. Embora vacilante, a resposta da Débora é acompanhada por um largo sorriso. Retirou da caixa um gorro vermelho com um boneco da Minnie, da Disney. Hesita alguns segundos. É notória a dificuldade em verbalizar. “Tem a ver com a tua infância, com os desenhos animados ou histórias que lias quando eras pequena?”, auxilia a formadora. “Não propriamente”, responde Débora, sem conseguir alongar mais. “Não te preocupes, no final desta sessão já vais estar aqui à frente e vai correr bem melhor”, garante a formadora. 


“O maior obstáculo na comunicação em público tem a ver com a falta de auto-noção, de autoconsciência, de identificar quais são as dificuldades”, explica Filipa. “As pessoas pura e simplesmente bloqueiam, sem saber porquê”. Explica que, na maior parte das vezes, esses bloqueios devem-se a dificuldades específicas, “seja na postura, na articulação do raciocínio, na utilização das diferentes técnicas, visuais ou auditivas, para fazer uma apresentação”. “Metem tudo no mesmo saco e o problema atinge uma dimensão gigante, sem solução aparente à vista”. 
No entanto, Filipa afirma que há imensas soluções e que estas são “fáceis” e “acessíveis” a todos. “Basta conhecê-las”. É isso que vai acontecer neste fim-de-tarde em Alvaiázere. 


A sessão prossegue com inúmeros exercícios, em torno da adequabilidade do discurso às circunstâncias, a coerência entre a expressão verbal e corporal, o controlo do tom de voz, as posturas de poder e outros mecanismos de autoconfiança, as bengalas comunicativas, dicas de relaxamento, o foco na plateia tal como o célebre truque de a imaginar despida, a importância da emoção e da empatia no discurso, até técnicas de ioga de respiração.



“No fundo são pequenas ferramentas que muitas vezes desconhecemos e que são acessíveis, podendo ser usadas não só no seio profissional mas em todas as áreas, sobretudo na pessoal”, afirma Filipa. A formadora sublinha que há determinadas dicas que que são totalmente “transversais” e podem ser usadas quotidianamente para gerar uma “comunicação eficaz”.
Filipa refere que é muito comum surgirem pessoas com imensas dificuldades nestas formações e muito hesitantes na participação inicial. Mas é igualmente comum conseguirem superar-se no final. 
“Com estes exercícios, com todo este treino, as pessoas começam a conhecer a raiz dessas dificuldades e percebem que afinal não se trata de um bicho de sete cabeças. Não é assim tão assustador. Com preparação e planeamento, conseguem enfrentá-lo. Até superá-lo”. 


A noite já se abateu sobre a vila de Alvaiázere, quando os alunos se preparam para o exercício final. Devem discursar de pé, perante todo o grupo, enquanto envergam uma faixa vermelha que os identifica como “o centro das atenções”, e falar sobre as motivações que os trouxeram a esta sessão, tal como os benefícios que sentem que conseguiram retirar da mesma. 
“Quem começa?”, questiona a formadora. “Posso ser já eu”, voluntaria-se Débora, sorridente. 
Dá um último vislumbre às notas que escreveu e mete o papel no bolso. Respira fundo e diz: 
“Foi muito importante ter vindo, esta sessão ajudou-me com algumas técnicas e pequenos truques que desconhecia, como a importância do tom de voz, que nunca consigo controlar. Acho que aprendi técnicas úteis, extremamente importantes, que penso que me vão ajudar a superar as minhas dificuldades”.
Sorriu, perante a salva de palmas coletiva.

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