22 de maio de 2018

Um dia na (nova) vida de Joana [prólogo]



O sol é o despertador de Joana. Levanta-se às sete e ela também. Ainda de pijama, desce as escadas e vai buscar o pão fresco e os croissants que o padeiro deixou no portão. Insere-os nos sacos de pano coloridos que tem pendurados na parede de granito da casa. São mimos para os hóspedes. 

Vai à arrecadação e sai de lá carregada de almofadas, puffs e colchões, que instala nas zonas de lazer da quinta. Volta para dentro, liga o computador e responde aos e-mails. Hoje não deve chover, por isso mete a lavar a roupa das quatro casas da Casa das Palmeiras. 
Corre para a cozinha. Enquanto toma o pequeno-almoço, faz a gestão das redes sociais. Está a escrever um post no Facebook sobre uma aula que foi convidada a dar sobre turismo rural na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu. “Joannnnnnnna!”. Lá fora, as crianças chamam por ela, ansiosas por brincar com os animais da quinta. Joana cede ao apelo e vai soltar o Nero, um simpático labrador, que as vai deixar entretidas durante pelo menos 15 minutos. Acaba a publicação. Lança também uma foto no Instagram com a nova ninhada de coelhos. 

Calça as galochas e as luvas e vai para a horta tirar ervas dos canteiros, que têm de ser preparados para colocar o cebolo e as batatas. Falta o estrume. Agarra no carrinho de mão e vai buscá-lo ao galinheiro. Os hóspedes de uma das casas estão para sair, os miúdos correm para Joana, abraçam-na, despedem-se. “Vamos regressar”. Eles à casa, Joana às tarefas. Hoje, a senhora que ajuda nas limpezas não vem e Joana tem de ir limpar essa casa antes do check in dos novos hóspedes. Interrompe a limpeza para ir fazer outro check out. Vai à receção, faz as contas. Os hóspedes querem visitar a Torre de Gandufe antes de irem embora, Joana explica-lhes o caminho. Mais uma despedida, mais uma promessa de regresso. 

Joana retoma as limpezas. Quando termina, tem gatos e cães à porta, a abanar o rabo. Está na hora do almoço deles. O ponteiro continua a sua marcha. Joana dá por ele às duas da tarde e lembra-se que também tem de comer qualquer coisa. Rápido, porque tem de apanhar a roupa que ficou a secar. 
Entretanto, vai continuar a montar a cozinha nova que comprou para ter uma zona de copa para preparação dos pequenos almoços e afins. O pulso já está dormente de tanto aparafusar. Faz uma pequena pausa. Lembra-se que falta fiambre e queijo para os pequenos-almoços. Adeus pausa. Joana acelera no seu “2 Cavalos” rumo ao supermercado, em Nelas. Quando regressa os novos hóspedes estão a chegar. Recebe-os, leva-os à casa e faz-lhes uma visita guiada à quinta. Já no final do percurso, o balido arrastado das cabras assinala as 18 horas. Está na hora de comerem. Joana constata que não há ração. Enquanto pensa numa solução, os hóspedes pedem jantar. Liga para o restaurante - com o qual tem uma parceria - para saber o menu do dia. Vai ter de ir a Nelas comprar quatro sacos de 20 quilos de ração e apanhar alguns baldes com sobras de legumes que um outro restaurante lhe costuma dispensar para dar aos animais. O ideal seria levar a pick-up, mas está na oficina. Vai ter que caber tudo no 2 Cavalos. Joana volta a cavalgar 14 quilómetros, ida e volta. Estaciona às 19:00. Os hóspedes já escolheram o jantar, Joana faz a encomenda para as 20:00. 

Veste a roupa de trabalho e prepara a comida dos animais. Dois baldes de milho e de mistura de cereais e dois baldes de legumes. Mete tudo no carrinho de mão e faz o circuito habitual. Primeiro as galinhas, os gansos, os coelhos e os patos. Aproveita e recolhe os ovos do dia num cesto enorme. A seguir, as cabras. Já não têm palha, mais uma volta no carrinho de mão, rumo ao celeiro. São quase 20 horas quando começa a chover. Joana tem de tirar as almofadas e afins dos espaços de lazer, antes de voltar a montar o 2 Cavalos rumo ao restaurante, para trazer o jantar dos hóspedes. 

Já anoiteceu e o carrinho de mão ainda rola nos caminhos da quinta, com lenha para acender o fogão, coberta por uma lona que a protege dos aguaceiros. Joana dispensa proteção, vai tomar banho a seguir. O relógio aponta 22:34 quando se senta para petiscar umas sandes, com uma toalha enrolada no cabelo, enquanto responde aos emails do dia. 
Vai dormir a pensar nas podas acumuladas no olival, na zona das cabras para triturar, na erva da horta para cortar com a máquina de roçar, nas ervas daninhas dos canteiros. 

Este é o quotidiano de Joana Travessas, que trocou a vida na cidade por um empreendimento turístico no campo, a Casa das Palmeiras. Retratos de dias preenchidos de sol a sol, tarefas intermináveis e sorrisos fatigados, que ela não troca por nada do mundo. Para saber tudo amanhã, na nossa reportagem “A casa do Eterno Regresso”.

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