Após quatro horas de caminhada, António Fernandes, um arquiteto portuense de 39 anos, finalmente avisou o cume da montanha suíça. Lá em cima, para além de uma paisagem magnífica, encontrou também um hut, uma cabana de apoio onde eram servidas pequenas refeições. Quando a viu, teve uma ideia. Anos depois, essa ideia iria torna-se um projeto de vida.
António estava naquele país desde 2011. Tinha acabado o curso de arquitetura no Porto, “em plena crise do sector”, e decidiu explorar outras áreas.
Surgiu a possibilidade de ir trabalhar para a Suíça durante um verão, na área da hotelaria num parque nacional, rodeado pelos Alpes.
“Era uma área diferente, mas que sempre me despertou muita curiosidade, especialmente sendo eu um amante da natureza”. Nas folgas, António deliciava-se a fazer trilhos nas montanhas e a “explorar a imensidão dos Alpes”. Talvez por isso, aquele verão prolongou-se. Durou quase três anos.
Durante todo esse tempo, António constatou sempre um “fluxo enorme” de turistas que faziam os trilhos. “No entanto, não havia uma continuidade, subiam à montanha e desciam de imediato, para o hotel”. E na sua própria descida, inspirado pelo que tinha acabado de presenciar, havia uma interrogação que o acompanhava: “Porque não se cria um equipamento que seja como uma tenda mas com o conforto de um hotel? Algo com pouco impacto para o ambiente e que permitisse essa continuidade exploratória da natureza?”.
A questão seguiu-o até Portugal. Em 2014, decidiu dar-lhe resposta e criou a Ecocubo. “Um conjunto de estruturas ecológicas, como se de um cubo mágico se tratasse, que possibilita às pessoas permanecer e progredir no território de forma sustentável, com pouco impacto para o meio ambiente”.
A ideia era possibilitar “experiências personalizadas de imersão na natureza”, promovendo, no processo, produtos endógenos, como a cortiça. “Para além de ser um excelente isolamento, é um produto 100% natural e Português”.
Simultaneamente, António pretendia que a Ecocubo funcionasse como um “catalisador de territórios de baixa densidade”, dando a conhecer outros destinos, “fora dos tradicionais”.
O empreendedor meteu mãos à obra. No ano seguinte, já tinha um protótipo na Exponor. E em 2016, via o seu projeto ser premiado naquela que viria a ser a primeira edição do Prémio José Manuel Alves, concurso de empreendedorismo turístico do Turismo Centro de Portugal.
“Foi um motivo de imenso orgulho! Apenas ser selecionado para a fase final já demonstrava mérito e reconhecimento. Ser premiado veio comprovar a convicção que tínhamos um produto interessante para apresentar ao mercado”.
Para além disso, António destaca a oportunidade que o concurso lhe deu para ter o primeiro contacto com o mundo do empreendedorismo. “Momentos de networking, contactos e sinergias com outras empresas, apresentar as nossas soluções a uma audiência especializada, conhecer entidades externas do turismo, toda a partilha e conhecimento que daí adveio foi como um segundo prémio”.
Desde então, a Ecocubo tem sofrido um processo de “crescimento, evolução e amadurecimento”. E já com essa bagagem, integrou a presente edição do Discoveries, programa de aceleração organizado pela Fabrica de Startups com o apoio do Turismo de Portugal, que tem como objetivo dinamizar o setor do Turismo em Portugal, apoiando startups nacionais e internacionais com potencial.
“Foi com grande satisfação e orgulho que recebemos a notícia que havíamos sido uma das 20 selecionadas para participar do programa, onde concorreram mais de 200 empresas de todo o mundo. Está a ser uma experiência excecional, bastante intensa, enriquecedora, que nos faz constantemente refletir na melhoria da nossa estratégia, do nosso serviço, de forma a agregar mais valor às experiências que proporcionamos”.
Amanhã, a Ecocubo vai fazer o seu pitch na Grande Final do Discoveries.
Há ambição no ar, há determinação e sobretudo, confiança no presente e no futuro.
“Queremos proporcionar experiências de imersão na natureza e especialmente agora, num cenário pós-pandemia, a natureza vai ser cada vez mais procurada, pela sua capacidade de nos desligar do stress quotidiano, de nos possibilitar uma maior conexão connosco próprios e pelo seu imenso poder regenerativo”.
A designação do projeto não se deve apenas à forma cúbica das unidades de alojamento, mas também à missão que o empreendedor assume de “elevar à potência máxima” o usufruto do mundo natural.
“O objetivo é podermos criar uma comunidade de amantes da natureza que se reveem nos valores e partilham da visão da Ecocubo, de poder viver, sentir e explorar a natureza. Ao cubo!”