27 de agosto de 2019

O regresso ao futuro do ZX Spectrum no Centro de Portugal


A infância de João Ramos era comum a tantas outras crianças da década de 80. Conduzia carros de rolamentos no alcatrão, colecionava bonecos ‘Masters do Universo’ (tinha todos, até o famoso castelo),  jogava Monopólio ou ‘O Sabichão’ com os amigos. E tinha um Spectrum. Recebeu o famoso microcomputador da empresa britânica Sinclair quando tinha seis anos. Ficou fascinado com a “caixinha mágica” e passava tardes inteiras com os amigos a jogar aqueles jogos tão peculiares, que tinham o formato de uma cassete de áudio e eram carregados num gravador que enchia a televisão de riscas horizontais coloridas e a casa de um som tão agudo quanto irritante. 


João refastela-se no sofá de couro castanho. Já passaram 35 anos e não precisa de fazer um esforço acentuado de memória para ainda conseguir ouvir essa sonoridade distante. Debruça-se sobre uma mesa, estica o braço e carrega a tecla play de um velho gravador e ela regressa aos seus ouvidos, tal como as riscas ao ecrã de uma televisão ITT, ainda com caixa de madeira. “Tudo começou com esta caixinha mágica”, pensa para si, enquanto olha em redor da sala, toda decorada como se estivéssemos de regresso aos anos 80. Não é um mero exercício revivalista. A sala faz parte de uma exibição patente no Museu da Pedra, em Cantanhede, denominada Load “” -  o celebre código que tinha de ser inserido no computador para carregar um jogo - que João criou com a sua coleção de computadores Spectrum, a maior do país e que o tornou num dos mais reputados colecionadores do mundo. Uma coleção com uma misteriosa coincidência por trás e um desígnio ousado pela frente. 



Tudo começou aos seis anos, quando João recebeu a caixa mágica. E tudo se adensou com o entusiasmo de um tio, radio-amador e apaixonado pela eletrónica,  que vivia no Algarve e lhe trazia sacos cheios de material quando vinha visitar a família. “Eram sacadas cheias de jogos”, relembra João, com um sorriso nostálgico. Pendurava-a no guiador da bicicleta e pedalava até à casa dos amigos, onde passavam horas e horas a experimentar todos aqueles jogos. Maniac Miner, Jet Set Willy, Chucky Egg, Match Day,  Pijamarama, Commando, Rick Dangerous, Barbarian. Cada cassete era um mundo mágico a explorar. Quando o jogo entrava, claro. Os dados eram transmitidos por áudio através de um gravador. Geralmente o processo demorava entre 10 a 15 minutos. João e os amigos iam lanchar e quando regressavam ou tinham o jogo carregado, ou deparavam com a fatídica mensagem  “R tape loading error, 0:1” num ecrã branco. “Quando acontecia isto, usávamos uma chave de fendas para afinar os agudos no gravador”, recorda João, aludindo a um truque que se alastrou de Norte a Sul de Portugal sem que existisse Internet ou telemóveis. 


“Eram genuínos momentos de convívio, onde fiz amizades para a vida”. À noite, já em casa, as incertezas, embora de natureza diferente, perduravam. “Naquela altura eram comum só haver uma televisão nas casas portuguesas, ou se jogava ou se via a novela”. Após um “árduo período de negociação”, João geralmente conseguia algumas dezenas de minutos antes de ir dormir. Um dilema que morreu numas férias da Páscoa. “O meu padrinho ofereceu-me uma televisão Minerva, com ecrã de 37 centímetros”. A partir daí, João conquistou um novo território cheio de liberdade para explorar o potencial do Spectrum. Foi no seu quarto que aprendeu a programar. “As sacas do meu tio não traziam apenas jogos, também manuais, revistas, programas e imensos periféricos”. Todo esse material acendeu-lhe a curiosidade. Transcrevia páginas e páginas de listagens com códigos para o computador, só para ver acontecer algo no ecrã. Imaginava-se a criar os jogos, em vez de apenas os jogar. “Naquele momento, na minha cabeça formulou-se uma certeza: a minha vida ia estar ligada a computadores e tecnologia”.



No oitavo ano, o Spectrum foi encaixotado. Já tinha cumprido o seu papel. Como tantos portugueses, João já tinha desenvolvido algumas competências relacionadas com a computação por causa dele. A partir daí, transitou para um PC. A informática manteve-se presente no seu percurso académico, na secundária, na universidade. Em 2000, já engenheiro informático, estagiou numa startup no Grupo Salvador Caetano, onde criou uma ferramenta de cross sell, o Predictor. “Nunca mais me esqueci porque tem o mesmo nome que um teste de gravidez”, relembra, sorridente. Pouco depois, integrou os quadros da Critical Software (CS). Presentemente, é CEO da Retmarker, empresa detida pela CS que produz software para oftalmologia, especializado na prevenção da cegueira através da inteligência artificial. Foi já nesse cargo que deu uma entrevista onde se identificou como proveniente da ‘geração Spectrum’. “Foi aí que o bichinho voltou a mexer”. Estava na hora de homenagear a máquina que tinha marcado a sua infância e moldado o seu futuro. 



Numa manhã de 2013, João visitou a feira de velharias de Coimbra e viu um Spectrum 48k, o mesmo modelo do seu, que há muito tinha deixado de funcionar. Negociou-o com a vendedora e comprou-o por 15 euros. Fez a viagem para Cantanhede ansioso por experimentá-lo. Ligou-o à corrente e nada. Desmontou-o, constatou que o problema era no teclado. Foi buscar o antigo e fez um transplante. Contou até três e ligou-o. Estava a funcionar. Entusiasmado, conectou-o a um plasma de 40 polegadas e tirou uma foto, que publicou no Facebook, com a legenda: “Adivinhem quem voltou”. Choveram likes e comentários. O feedback incentivou-o ainda mais. “Foi nesse dia que decidi que ia começar a colecionar Spectrums”. Sossegou a mulher, dizendo-lhe que seriam só três ou quatro. Deixa escapar um sorriso malandro. “Já tenho mais de 100”.

Foto: Catarina Gralheiro

A arte do colecionismo é morosa e árdua. Por trás das peças exibidas há incontáveis horas no OLX, Ebay e fóruns da especialidade. Há imensos Spectrums com características diferentes em várias partes do globo. Um dos mais raros está na América Latina, uma versão NTSC que tem um interruptor diferente,  “algo que não interessa a ninguém exceto a quem é perdido por estas coisas”. 
João descobriu um no Peru, na plataforma de vendas Mercado Libre. No entanto, o vendedor não queria fazer o envio para Portugal. “Não venda isso a ninguém que eu arranjo uma solução”. E recorreu à sua máxima sagrada: “Há sempre um português em cada canto do mundo”. Contactou alguns amigos na Venezuela, um deles conhecia um peruano, jogador de futebol de uma equipa da capital, Lima. “Perfeito, é aí mesmo que ele está à venda”. O jogador aceitou fazer o negócio. O próximo passo era arranjar forma de transferir os 265 sois peruanos (cerca de 70 euros). “Teve de ser por Western Union”.  João ainda teve de efetuar mais duas transferências, uma por mudanças de câmbio e outra para as despesas de envio. “O pessoal no banco já pensava que se tratava de um esquema marado”, afirma, a rir.

Foto: Catarina Gralheiro

A sua máxima é infalível. Seja para trazer monitores CRT de um hotel de Évora ou um veículo Sinclair da Holanda.  Sim, leu bem, um veiculo. Em 1985, a Sinclair lançou um veículo elétrico futurista que pretendia revolucionar o transporte pessoal. “O Clive Sinclair era um visionário com muito interesse pelo tema da mobilidade. Ele sonhava com a implementação deste sistema de transporte individual, um para cada elemento a família, para pequenas deslocações”, afirma João. “Estes veículos, como não ultrapassavam os 25 KM/hora, podiam ser conduzidos por qualquer pessoa com mais de 14 anos, sem necessidade de carta de condução”, complementa. 
Sinclair investiu sete milhões de libras neste projeto, altamente inovador mas que se tornou num fiasco comercial. É um artigo extremamente raro e João não queria acreditar nos seus olhos quando encontrou um à venda na plataforma de vendas Marktplaats, na Holanda.

Voltou a acionar a sua máxima. Descobriu um grupo do Facebook “Portugueses na Holanda”, aderiu e pediu ajuda: “Por favor, preciso que alguém vá a esta cidade e me compre isto. Confiem em mim, isto é para um maluco em Portugal mas que é um gajo sério”. Alguém se disponibilizou. Conversaram,  combinaram e João transferiu o dinheiro. Agora faltava arranjar forma de trazer a relíquia para território nacional. “Foi nesse instante que aconteceu mais uma daquelas coisas que não se conseguem explicar, onde tudo se parece alinhar como se fosse predestinado”. O bom samaritano geria uma empresa dedicada ao transporte de mercadorias entre Holanda e Portugal. “Até me enviou uma foto do C5 a ser embalado e tudo”.  Hoje, é um dos ex-libris da coleção, “uma das peças mais icónicas, à qual as pessoas acham mais piada”.


E esta é uma das particularidades da coleção de João Ramos. Não se limita a exibir computadores Spectrum com pequenas diferenças. Abrange toda a história da Sinclair, os produtos da marca que antecederam o famoso micro-computador, calculadoras, rádios, televisões de bolso, computadores criados por ex-funcionários da empresa, clones fabricados em diversos países, Spectrums construídos em casa com teclados de máquina de escrever, diversos modelos Timex (que em meados de 80 licenciou os produtos da Sinclair e podia fabricá-los para outros mercados, como o americano ou o argentino, sendo a sua principal fábrica europeia localizada em Portugal), livros e revistas da época, imensos periféricos, até os mais excêntricos gadgets da empresa britânica, o já referido C5, o SeaScooter ZS91 - um propulsor individual de mergulho - ou uma bicicleta desdobrável, a Sinclair A-bike. Todo esse espólio reside agora no Museu da Pedra, em Cantanhede, onde permanecerá até ao fim do ano. 


No dia em que João inaugurou a exposição, 27 de Abril, passou a manhã a preparar os slides da apresentação, mas sentia que faltava algo, uma história engraçada para encerrar com chave de ouro. Resolveu fazer uma pausa, saiu para o exterior, puxou do telemóvel e consultou o Facebook. Viu algo que o deixou estupefacto. “Apareceu-me aquela cena das memórias, a avisar que fazia nesse dia seis anos que tinha encontrado o Spectrum na feira das velharias e decidido dar inicio à coleção”.

Foto: Catarina Gralheiro

O evento teve ampla cobertura mediática, apareceram amigos de infância que João não via há anos, mas com quem tinha partilhado “imensas jogatanas”, apareceram pessoas de fora da cidade, do distrito, da região. A 90 quilómetros de distância, João Carlos Silva, um advogado portuense, conduzia pelas ruas de São João da Madeira quando ouviu a entrevista em direto que a TSF estava a fazer ao autor da exposição. Travou, estacionou o carro. Há 36 anos que tinha o seu velho Spectrum 48K arrumado numa caixa de cartão. Já nem sabia das cassetes dos jogos que tanta companhia lhe tinham feito na infância, como o “Pole Position” ou o “Deos ex Machina”, mas não tinha coragem de o deitar fora. “Seria como abandonar um amigo e uma boa recordação da juventude”, pensava, sempre que deparava com a caixa de um azul desbotado pelas décadas. Virou-se para a esposa e disse: “Olha, daqui a Cantanhede são 45 minutos, vamos lá ver a exposição e eu aproveito para oferecer o meu aparelho, assim não vai para o lixo e fica em companhia de outros”. Ao mesmo tempo, pensou para si: “No fundo, ele vai ficar vivo para sempre e em boa companhia”.

Foto: Catarina Gralheiro

Quando foi abordado pelo entusiasmado doador, João não queria acreditar. “Ainda tinha o manual em português e o documento da garantia, com o carimbo da Papelaria Fidélia, no Porto, onde tinha sido comprado”.
Este fenómeno sociológico em torno do Spectrum é muito comum e está bem enraizado em território nacional e europeu. Não é só nostalgia, é nostalgia abraçada a amizades que se perpetuaram no tempo, abraçada ao período dourado que é a infância, que Rilke apelidava de “arca do tesouro” nas suas “Cartas a um Jovem Poeta”. 

As pessoas fazem centenas de quilómetros ou compram bilhetes de avião para marcar presença . Há línguas de todas as nações no espaço da Load “”. Debatem a forma como destruíam teclados com jogos de atletismo como Daley Thompson's Decathlon, que requeriam que se carregasse freneticamente nas teclas. Ou os “gráficos fenomenais” do Robocop. Ou até a “simplicidade viciante” de High Noon, um jogo de duelos entre pistoleiros no velho oeste. João costuma ter esse jogo disponível entre os vários que estão na banca com quatro Spectrums onde os visitantes podem matar saudades. Um dia, recebeu a visita de um amigo que lhe confessou que ainda jogava High Noon com os amigos e com apostas a dinheiro. “Afinal há mais malucos como eu”, afirma, a rir.


No entanto, o item em exposição mais precioso é o entusiasmo apaixonado com que João, quando está presente no espaço, relata episódios ou partilha curiosidade sobre o Spectrum e a Sinclair, desde o motivo do nome e do logótipo – foi o primeiro microcomputador da marca a produzir imagens com cores – às rádios pirata que transmitiam jogos Spectrum durante a madrugada, para quem os quisesse gravar. 
“Ainda eram caros, cerca de 200 escudos por cada cassete não era?”, alguém pergunta. “Sim, mas não te esqueças que  99% dos jogos que se comercializavam em Portugal, apesar de se venderem em lojas, terem capas a cores e legendas, eram pura pirataria”, afirma João. Perante algum espanto geral, o colecionador prossegue: “Cheguei a ver uma loja de informática em Cascais, com paredes toda ocupadas com gravadores profissionais de cassetes para os duplicar em série”, elucida, enquanto mostra o aspeto de um genuíno jogo original, em destaque numa das vitrinas da exposição.

Apesar de toda a atenção que tem recebido, João sente que a sua aventura do colecionismo ainda vai no início. Complementou esta exposição com uma presença na seção de gaming da Expofacic e até criou uma plataforma online de colecionismo, a Collectors Bridge. No entanto, tem a sensação que há ainda algo mais pela frente, como se fosse um jogo em processo de carregamento. O jogo que mais ambiciona jogar: Ter o seu próprio museu dedicado ao Spectrum e torná-lo numa atração turística. 

Foto: Catarina Gralheiro

“Há alguns museus dedicados à Apple na Europa, como em Cáceres ou Praga. Mas do Spectrum, que é a Apple do seu tempo pelas sensações que provocou e ainda continua a provocar em nós, europeus, ainda não há nenhum, nem na cidade onde ele nasceu,  Cambrigde”.  Explica que nessa cidade universitária britânica, onde estava sediada a Sinclair, há um museu dedicado à computação, o Centre for Computing History, que inclui alguns exemplares Spectrum, mas cujo espólio é genérico e abrangente. “A minha coleção Geração Spectrum é especializada, permite-me focar nas coisas mais estranhas que aparecem deste nicho e é isso que a torna única. Qualquer outra cidade pode construir um polo de atração à volta deste tema, que faz viajar tantos fans, colecionadores e curiosos”.

João imagina-se nesse futuro espaço, a organizar workshops, tertúlias entre muitos outros eventos de um “extenso plano de atividades” para trazer, de forma continuada, visitantes ao museu.  Até já idealizou estratégias para envolver o guru da Sinclair - Sir Clive Sinclair - e a Timex, pela “relevância histórica nesta temática, fortemente associada a Portugal”.


“Um museu que seja peça central de encontro de gentes ligadas ou curiosas por este tema, mas também um pólo de atração turística a uma qualquer cidade que se queira afirmar neste domínio”, afirma, salientando a oportunidade de criar uma “marca turística” que ficará para sempre associada à cidade que abrace o projeto. “É uma área de nicho, mas estamos a falar de tecnologia, algo que se tornou ubíquo nas nossas vidas e que por isso afeta ou interessa de alguma forma a todos”, refere. “Um museu que, a estar associado a mim, parece-me só fazer sentido na minha região, que é o Centro de Portugal”.


João faz uma pausa, a sua mente regressa novamente aos anos 80, aos filmes de Kung Fu com o mítico Bruce Lee. “Ele tinha uma filosofia onde defendia que ter o conhecimento não era suficiente, era preciso aplicá-lo. Transportando essa máxima para este tema, ter os objetos guardados em casa não me chega, é preciso fazer algo com eles, neste caso colocá-los ao serviço da comunidade”, diz, complementando de seguida: “Há já muito tempo que deixei de ver esta coleção como apenas minha, mas sim como tendo a responsabilidade de preservar este pedaço de história da computação que para a minha vida foi tão importante”.



Não esconde essa ambição de criar o primeiro Museu dedicado ao ZX Spectrum no mundo e está convicto que vai materializá-la no Centro de Portugal. Volta a imaginar as riscas horizontais. Conhece-as bem, sabe que são temporárias. Sorri, tranquilo. “O jogo vai carregar”.


23 de agosto de 2019

Abertura de aviso DLBC Rural: Ação 10.2.1.6 - Renovação de Aldeias


A TAGUS - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior, tem abertas as candidaturas à ação 10.2.1.1.6 - Renovação de Aldeias, e decorrem até 15 de outubro.

Data de Abertura: 14-08-2019 (09h00)
Data de Fecho: 15-10-2019 (16h59)
Fundo: FEADER | Concurso: 003/TAGUS/10216/2019

Beneficiários:
Pessoas singulares ou coletivas de direito privado;
Autarquias locais e suas associações;
Outras pessoas colectivas públicas;
GAL ou as EG, no caso dos GAL sem personalidade jurídica.

Objetivos:
Preservação, conservação e valorização dos elementos patrimoniais locais, paisagísticos e ambientais, bem como dos elementos que constituem o património imaterial de natureza cultural e social dos territórios

Taxa de Comparticipação: 80%
Valores de Investimento Mínimos – Máximos: 5.000,00€ -200.000,00€


Na sequência da abertura do aviso de concurso aos apoios a projecto, enquadrados na operação 10.2.1.6. – Renovação de Aldeias, do DLBC Rural – FEADER, a TAGUS vai realizar sessões de esclarecimento, no início de Setembro, para dar a conhecer a esta oportunidade de financiamento do património de interesse colectivo

3 de setembro | 18h | Constância | Salão Nobre dos Paços do Concelho
4 de setembro | 18h |Sardoal | Centro Cultural Gil Vicente
5 de setembro | 18h | Abrantes | Auditório do Estádio Municipal

Pode fazer a sua inscrição Aqui

Mais informação em www.agus-ri.pt

22 de agosto de 2019

Terras de Sicó –Associação de Desenvolvimento | Candidaturas abertas de 20 agosto a 14 outubro de 2019


O cumprimento dos critérios de atribuição da reserva de eficiência garantiram ao GAL Terras de Sicó, um reforço do envelope financeiro para o território de intervenção.

A Terras de Sicó – Associação de Desenvolvimento, tem disponíveis até 14 de outubro, mais de 550 mil euros para projetos levados a cabo no âmbito das operações “Pequenos Investimentos nas Explorações Agrícolas”, “Pequenos Investimentos na Transformação e Comercialização de Produtos Agrícolas”, “Diversificação de Atividades na Exploração Agrícola” e “Renovação de Aldeias” da Medida 10 – LEADER, do Programa de Desenvolvimento Rural do Continente 2014-2020 (PDR 2020).

A área geográfica elegível corresponde ao território de intervenção da TERRAS DE SICÓ, que inclui a totalidade das freguesias dos concelhos de Alvaiázere, Ansião e Pombal, no distrito de Leiria e Condeixa-a-Nova, Penela e Soure, no distrito de Coimbra.

Mais informação no website da TERRAS DE SICÓ em www.terrasdesico.pt


Oficinas do Tourism Up e Taste Up no Centro de Portugal


Os programas Tourism Up e o Taste Up, organizados pela Territórios Criativos, já têm um conjunto de oficinas de capacitação agendadas para a região Centro de Portugal, que decorrerão nos seguintes concelhos:

Alcanena | 3 de setembro | 16:00 | Auditório Municipal - Paços do Concelho 
Inscrições: https://forms.gle/7TyntvDSsLzBQEa96

Óbidos | 16 de setembro | 10:00 | Casa José Saramago
Inscrições: https://forms.gle/Zq7jHCmDZm338kNH7

Arruda dos Vinhos | 16 de setembro | 15:00 |  Centro Cultural do Morgado
Inscrições: https://forms.gle/CjGXYJw2emjVCL8UA
 
Vouzela | 17 de setembro | 15:00 | Lafões.Cult.Lab
Inscrições: https://forms.gle/9w6m2Zxrap35byR7A

Lourinhã | 18 de setembro | 10:30 | Salão Nobre do Edifício dos Paços do Município
Inscrições: https://forms.gle/uaLqZtUNfswJ95bt9

Tábua | 18 de setembro | 15:00 | Edifício da Câmara Municipal
Inscrições: https://forms.gle/p68gj3ZVpwaNb7C17

Trancoso |  20 de setembro | 16:00 | Biblioteca Municipal
Inscrições: https://forms.gle/xnwYy8rXWgwdZoS46

Porto de Mós | 8 de outubro | 10:00 | Cineteatro
Inscrições: https://forms.gle/pTRkewBT5mtZvyft7

Alenquer | 8 de outubro | 16:00 | Edifício da Câmara Municipal - Sala Teófilo Carvalho dos Santos
Inscrições: https://forms.gle/Rte6JAS8rUyid1de6

Torres Vedras | 9 de outubro | 16:00 | Mercado Municipal
Inscrições: https://forms.gle/fFruRCWiNNMRUuy17

Estas oficinas estão integradas num roadshow por 50 territórios, das quais resultarão 36 projetos selecionados que terão a oportunidade de desenvolver os seus negócios através da participação em dois bootcamps, cada um constituído por dois dias intensivos de mentoria e formação, nos dias 25 e 26 de outubro e 22 e 23 de novembro. Por fim, os programas irão culminar numa apresentação pública final, onde serão selecionados os vencedores, no dia 5 de dezembro.

O Tourism Up é um programa de aceleração no sector do turismo, que tem como objetivo apoiar startups no desenvolvimento de negócios neste sector, potenciando a inovação e a criação de redes empreendedoras, e o Taste Up é um programa de aceleração em Turismo Gastronómico e Enoturismo, que tem como objetivo promover a inovação e a experiência turística nas áreas da Gastronomia e Vinhos.

20 de agosto de 2019

Prémio Praia + Acessível 2019: candidaturas até 30 de setembro 2019


O Prémio Praia + Acessível, instituído no âmbito do Programa Praia Acessível - Praia para Todos, tem por objetivo distinguir as praias nacionais, costeiras ou interiores, que, tendo sido galardoadas com a bandeira Praia Acessível durante a época balnear, evidenciem as melhores condições de acessibilidade, constituindo-se, desse modo, como práticas de referência nacional, pela qualidade do usufruto da sua oferta de serviços e bem-estar.

Lançado em 2009, este prémio anual é atribuído por um júri nacional composto por um representante de cada um dos organismos abaixo e por um representante do patrocinador da edição do concurso:


São atribuídos prémios aos 1º e 2º classificados, constituídos por equipamentos destinados a melhorar as condições de acessibilidade das praias vencedoras, podendo ainda o júri decidir atribuir uma menção honrosa.

Mais informação em www.turismodeportugal.pt

14 de agosto de 2019

Linha de Crédito Capitalizar 2018 com candidaturas prorrogadas até 31 de dezembro


A Linha de Crédito Capitalizar 2018, gerida pela PME Investimentos em articulação com o Sistema Nacional de Garantia Mútua, e em parceria com várias instituições de crédito, tem uma dotação de 2.400 milhões de euros dirigida, preferencialmente, a PME, estruturando-se em seis Linhas específicas:​​ 

Linha | Micro e Pequenas Empresas
Objetivo: Facilitar o acesso a financiamento para investir em ativos e reforçar o capital das Micro e Pequenas Empresas. 

Linha | Indústria 4.0 – Apoio à Digitalização
Objetivo: Melhorar o acesso ao crédito por parte de empresas que desenvolvam, produzam ou adquiram soluções tecnológicas no âmbito da Indústria 4.0. 

Linha | Fundo de Maneio
Objetivo: Financiar as necessidades de fundo de maneio das empresas. 

Linha | Plafond de Tesouraria
Objetivo: Conferir maior flexibilidade à gestão corrente de tesouraria. 

Linha | Investimento 
 _Dotação "Projetos 2020": 100 milhões de euros para operações de financiamento de despesas elegíveis de projetos aprovados e contratados no âmbito do Portugal 2020. 

 _Dotação "Geral": 100 milhões de euros para operações destinadas ao financiamento de investimento novo em ativos fixos corpóreos ou incorpóreos e aquisição de partes sociais que complementem a atividade. 

Linha | Apoio às Empresas com Exposição ao Brexit
Objetivo: Colmatar falhas de mercado identificadas nas operações de financiamento a realizar por empresas com exposição ao mercado do Reino Unido. 

Disponível nos Bancos aderentes até 31 de dezembro de 2019, a Linha de Crédito Capitalizar permite aceder a financiamento em condições vantajosas, propondo montantes entre 50 mil euros e 2 milhões de euros por empresa e prazos de amortização entre 3 e 10 anos. 
O processo de candidatura é iniciado junto de uma das instituições de crédito protocoladas. 

Mais informação no documento de divulgação da Linha de Crédito Capitalizar 2018​​ e no website www.turismodeportugal.pt




13 de agosto de 2019

Abertas as inscrições para a 3ª Edição do Tourism Explorers 2019


Depois de duas edições, o Tourism Explorers está de regresso a 12 cidades portuguesas, para ajudar a desenvolver negócios inovadores na área do Turismo. Dividido em Ideação e Aceleração, o programa vai decorrer, em Abrantes, Angra do Heroísmo, Aveiro, Caldas da Rainha, Coimbra, Covilhã, Évora, Faro, Lisboa, Portalegre, Porto e Setúbal.

Na Ideação, os participantes vão ter de encontrar uma solução inovadora para o desafio que lhes for colocado, e decorre dias, 11, 12 e 13 de setembro. Na Aceleraçãoentre 24 de setembro e 24 de outubro, as equipas vão ter oportunidade de testar e validar o seu modelo de negócio. Em qualquer um dos casos, os participantes vão sempre poder contar com o apoio de uma alargada rede de formadores e mentores especializados.

O Tourism Explorers é um programa gratuito (mediante inscrição) organizado pela Fábrica de Startups, em parceria com o Turismo de Portugal, que tem como objetivo promover o empreendedorismo em Portugal, através da criação e apoio ao desenvolvimento de novas startups relacionadas com o setor do turismo.

O programa consiste num conjunto de 3 bootcamps de formação na ideação, e 6 bootcamps durante quatro semanas de Aceleração.
Verifique qual a cidade mais perto de si, e faça a sua inscrição. Ideação | Aceleração

O período de candidaturas decorre até 30 de agosto de 2019.

12 de agosto de 2019

Consulta Pública - Apoio da EU ao Emprego Jovem


Até dia 16 de agosto está em curso uma Consulta Pública lançada pela Comissão Europeia sobre a Avaliação do Apoio da União Europeia ao Emprego dos Jovens, no âmbito da Iniciativa para o Emprego dos Jovens e do FundoSocial Europeu.

São convidados a participar nesta consulta todos os cidadãos e organizações, em especial:

  • Jovens, nomeadamente jovens que não estudam, não trabalham, nem frequentam uma formação, quer recebam ou não apoio do Fundo Social Europeu ou da Iniciativa para o Emprego dos Jovens;
  • Organizações envolvidas na gestão dos Programas Operacionais  e na execução de operações do Fundo Social Europeu ou da Iniciativa para o Emprego dos Jovens;
  • Outras organizações que representem jovens ou com eles trabalhem, ou que desenvolvam atividades a nível da UE, nacional ou local no domínio do apoio ao emprego e das políticas ativas do mercado de trabalho.
Poderão fazê-lo através do preenchimento de um questionário online.

Objetivo desta Consulta Pública é de, por um lado, dar conta dos resultados das ações tomadas em prol do emprego dos jovens no período de 2014/2018 e de, por outro lado, fornecer orientações para o próximo período de programação, que tem início em 2021, sobre como e quando o apoio se revelou mais eficaz na contribuição para o emprego dos jovens.

Os Resultados desta consulta serão analisados e resumidos num relatório de síntese a publicar no sítio web da DG Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão.

In Portugal 2020

9 de agosto de 2019

11 a 13 setembro | Coimbra | 5ª Edição da Portugal Space Summer School


Estão abertas as inscrições para a 5.ª Edição da Portugal Space Summer School ((PTSSS), que vai acontecer em Coimbra entre 11 e 13 de setembro. 

A iniciativa é organizada pelo Instituto Pedro Nunes, entidade que em Portugal é responsável pela Incubadora de Empresas da Agência Espacial Europeia – ESA BIC Portugal, pela Rede de Transferência de Tecnologia e é embaixador da ESA Business Applications. É dinamizada em parceria com o Centro de Investigação da Terra e do Espaço da Universidade de Coimbra, Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas e Observatório Geofísico e Astronómico da Universidade de Coimbra. 

Estudantes, empreendedores/as e investigadores/as vão explorar a economia do espaço, através de um programa de atividades diversificado, que combina a partilha de conhecimento, networking; concurso de ideias de negócio; experiências, brindes e prémios.

Os dois primeiros dias do evento decorrem nas instalações do Observatório Geofísico e Astronómico da Universidade de Coimbra e o último dia no Departamento de Física da Universidade de Coimbra.

As inscrições podem ser feitas em aqui até ao dia 31 de agosto de 2019. O custo de inscrição é de 10€ por pessoa, sendo que na inscrição estão incluídas todas as atividades do programa, as principais refeições, receberás um kit de participante e um certificado no final.

Mais informações: space@ipn.pt ou https://spacesummerschool.ipn.pt


7 de agosto de 2019

ADAE RURAL 2020 - Candidaturas abertas


A ADAE no âmbito da sua Estratégia de Desenvolvimento Local ADAE RURAL 2020, abriu um período de candidaturas para as operações: 

10.2.1.3 - Diversificação de atividades na exploração agrícola 
10.2.1.6 - Renovação de aldeias 

A informação relativa a cada operação está disponível Aqui 

As candidaturas devem ser apresentadas através do Balcão do Beneficiário PDR 2020, até ao dia 30 de setembro de 2019. 

Consulte os avisos de abertura e a legislação em www.adae.pt ou www.pdr-2020.pt

5 de agosto de 2019

3ª Edição do Prémio Food Fab Lab com candidaturas abertas até 22 setembro de 2019


O Tagusvalley - Parque Tecnológico do Vale do Tejo, em Abrantes, tem as candidaturas abertas, para a 3ª Edição do Prémio “Food Fab Lab”, destinado a quem tem um novo produto alimentar e queira testá-lo, ou a quem queira criar um negócio alimentar. As candidaturas estão abertas até 22 de setembro. 

Para este prémio, que pretende contribuir para o desenvolvimento do sector, podem concorrer empresas e pessoas a título individual, e podem candidatar-se com qualquer produto alimentar, doce ou salgado, em qualquer conformação ou estado físico, de qualquer fileira alimentar, desde que transformado.

A avaliação será feita tendo em contra três critérios: inovação, potencial de mercado e degustação

Para concorrer, basta preencher o formulário de candidatura até 22 de setembro, e entregar o produto para prova sensorial entre 7 e 12 de outubro. Cada candidato só pode realizar uma candidatura.



2 de agosto de 2019

Abertura de aviso de candidatura PDR2020 Medida 10 LEADER - Ação 10.2.1.6 - Renovação de Aldeias




A ADDLAP - Associação de Desenvolvimento Dão, Lafões e Alto Paiva, tem abertas as candidaturas à ação 10.2.1.6 – Renovação das Aldeias, e decorrem até dia 13 de Setembro de 2019.
10.2.1.6 - Renovação de aldeias - Candidaturas Abertas | 01 agosto 2019 a 13 setembro 2019
Poderá obter mais informação através do telefone 232 421 215 

website www.addlap.pt

1 de agosto de 2019

A bolha onde se dorme aconchegado num manto de estrelas



Anabela Martins entrou na sala dos pequenos-almoços e sorriu ao ver o espaço ensolarado. Após uma noite de tempestade e trovoada, a manhã estava límpida e luminosa. “Depois da tempestade vem a bonança”, pensou, enquanto pousava a travessa e enchia a mesa de fruta, queijos, torradas, compotas, framboesas e outros produtos frescos da região. No entanto, eram 10:30 e os hóspedes não apareciam. Questionou-se se estaria tudo bem. Era a primeira noite tempestuosa que alguém passava na bolha, uma inovadora e original unidade de alojamento em Penamacor, no empreendimento Moinho do Maneio. Uma tenda esférica insuflada de ar, com frente e teto completamente transparentes, com vista desafogada para o céu. O suspense perdurou alguns minutos. “Deverei ir lá averiguar?”, equacionou Anabela. Uma porta abriu-se, a brisa da montanha inundou a sala e esclareceu a anfitriã. Era o casal da bolha, ambos com um sorriso desmesurado nos rostos. Tinham ficado acordados até quase de madrugada, a assistir, entusiasmados e assombrados, ao espetáculo alucinante no céu. “Foi uma experiência única”, disseram. Anabela sorriu com a palavra. Era-lhe familiar. Já ouvira “indescritível”, “espetacular”, “fantástica”, “excecional”, “mágica”, entre muitas outras expressões a descrever a experiência. Mas “única” era a mais frequente, a mais repetida. E talvez a mais ajustada. De facto, esta é a única bolha onde se pode passar a noite em Portugal. Há toda uma história e um percurso atrás da sua implementação. Essa história e esse percurso, iniciaram-se da forma mais habitual: Uma decisão de mudar de vida. 



Anabela Martins (47) e Rui Marcelo (46) eram um casal lisboeta com muitas coisas em comum. A profissão era díspar, ela era engenheira de minas e ele jornalista, mas o resto alinhava-se. Ambos tinham raízes familiares em Penamacor. Ambos tinham adotado Lisboa como destino académico e profissional. E ambos tinham decidido, vinte anos volvidos, que já estava na hora de abandonar a capital. “A nossa vida era casa-trabalho, trabalho-casa, não tínhamos tempo para usufruir do que Lisboa nos podia oferecer”, recorda Anabela. Esse tempo e esse usufruto, obtinham-no quando visitavam a sua terra, especialmente uma velha quinta, abandonada há décadas, que pertencia à família de Rui. “Entretínhamo-nos a fazer jardinagem”. O convívio no espaço, rodeado por natureza e absoluta tranquilidade, inspirava-os. Almoços ao ar-livre, mergulhos na ribeira que corre ao lado da propriedade, tardes a ler embalados pelo som do vento nas árvores. “Ganhámos uma paixão pela qualidade de vida”. Depois de a saborear, rapidamente concluíram que não iam viver sem ela. O plano surgiu com naturalidade. Iam tornar a propriedade na sua casa e, simultaneamente, num empreendimento turístico. Começaram a fazer reparações aos poucos. Fins-de-semana, pontes, férias. 

Foto: Moinho do Maneio
Foto: Moinho do Maneio

Na Primavera de 2008, após muitas obras, dois palheiros foram transformados na "Casa da Pipa" e na "Quarto das Andorinhas". O investimento não ficou por aí. Com o passar dos anos, outros compartimentos agrícolas deram origem ao “Quarto do Trigo”, à “Casa do Alecrim” e ao “Quarto do Amieiro. Todos os espaços estão construídos em xisto e estão recheados de charme rústico e criatividade. “São tudo ideias nossas, desde a construção à decoração”, diz Anabela. Essa veia criativa está bem patente no interior das casas, todas com imensos detalhes onde interligam originalidade com genuinidade. O antigo funil do lagar transformou-se num candeeiro, uma enxada num cabide, uma máquina de costura numa mesa e uma enorme pipa de vinho numa banheira. “Gostamos de dar uso aos utensílios antigos da quinta, para manter a genuinidade e identidade da região”. 
Nos quartos, há até cobertores genuínos de papa, mantas artesanais de lã churra de ovelha - “é mais comprida e macia”, sublinha Anabela - feitas pelos avós do casal, “uma tradição muito antiga e emblemática na região”. 



Junto à propriedade, estão as ruínas de um moinho secular, que serviu de inspiração para batizar o empreendimento: Moinho do Maneio. No futuro, o casal pretende recuperar esse espaço e meter as suas mós a moer novamente o trigo, o milho e o centeio. Para além de usarem parte da estrutura como unidade extra de alojamento, querem propiciar experiências aos hóspedes, como fazer pão, vivenciando todos os seus processos. Não apontam datas, nem têm dúvidas, o velho moinho voltará a ter vida. “Queremos muito recuperar a memória, as vivências de outros tempos. Mais cedo ou mais tarde, ele vai voltar a funcionar!”. 


Paralelamente à atividade turística, o casal resolveu também apostar na agricultura. Criaram uma plantação de framboesa, cujos frutos comercializam num cabaz típico destinado a empresas, recheado com outros produtos regionais. Produzem também licor de framboesa, com o qual dão as boas-vindas aos hóspedes. Nos pequenos-almoços, há sumo de framboesa. O fruto tornou-se numa imagem de marca do empreendimento.“Temos um casal habitual, cujos filhos até já nos tratam por tios e sempre que veem framboesa no super-mercado, perguntam de imediato: quando vamos à casa da Tia Anabela?”. 

Foto: Moinho do Maneio


Muito antes de surgir a ideia da bolha, há duas características diferenciadoras que se enraizaram no quotidiano do Moinho do Maneio. A primeira é a forma harmoniosa como inúmeros animais convivem nos espaços verdes do sítio. Há cães, gatos e até um casal de burros, o Jericó e a Julieta, que este ano tiveram um filhote, o Micas. “São animais dóceis e muito sociáveis e as crianças adoram-nos”, afirma Anabela. “Esse contacto é também pedagógico, há miúdos que têm medo de animais e perdem-no aqui, apercebem-se do quanto são inofensivos”. Anabela sorri antes de prosseguir e o sorriso transforma-se em gargalhada. “Temos um casal de Torres Vedras que vem muitas vezes visitar o Jericó. O filho tem cinco anos e, na primeira visita, regressou a chorar porque queria levá-lo para casa”. 



A segunda, é a “motivação” que os hospedes têm para conviver à maneira antiga. Nas casas e quartos do Moinho do Maneio não há televisão nem internet. “Em vez de rede wi-fi temos redes nas árvores”, afirma Anabela, sorridente. A aposta – ponderada e deliberada – funcionou. “As pessoas estranham no início, mas depois agradecem sempre”. Há casais com filhos que já não recordavam um jantar em família a conversar; há crianças que brincam juntas em vez de se entreterem com tablets; há pessoas que voltam a sentir, após muitos anos, o significado da expressão “não incomodar”. “Aqui as pessoas são obrigadas a desligar. Não há chamadas de última hora ou e-mails que precisam de ser respondidos. O telemóvel é um objeto obsoleto no Moinho do Maneio”. 
Para além do ambiente propício ao diálogo, nos armários das casas há jogos de tabuleiro, cartas, dominó. “Até um jogo de estratégia baseado na atividade de contrabando que existia nesta região”. 



Apesar da atmosfera bucólica, o casal não deixa que tranquilo rime com aborrecido. Organizam com frequência atividades no espaço. Noites de fado, sevilhanas, observação astronómica, reiki, reflexologia ou massagens. Há uma piscina, nas margens da ribeira há canoas e até um enorme trampolim. 
Anabela e Rui estão sempre a debater novas ideias. Há anos que idealizavam uma espécie de casa da árvore, com um teto envidraçado, onde os clientes pudessem adormecer a observar as estrelas. O plano foi sendo adiado, até que em inícios de 2016 foram à Feira Internacional de Turismo (Fitur) em Madrid. Foi lá que viram a bolha pela primeira vez. “Ficámos fascinados, era uma materialização inovadora do que tínhamos idealizado”, relembra Anabela. Era uma quinta-feira. Na segunda, a bolha estava encomendada. Nessa mesma semana, chegava a Penamacor. 

Todas as boas ideias, antes de serem implementadas, são atormentadas por peripécias. A bolha não foi exceção. Quando chegaram as mil águas de Abril, o casal constatou que o modelo estava defeituoso. “Deixava entrar água lá dentro”. Devolveram-na e receberam uma bolha temporária de substituição de uma cor que não se misturava de forma tão harmoniosa na envolvência natural como tinham planeado. “Era cor-de-rosa, via-se a léguas”, diz Anabela, a rir. No final desse ano, chegou a bolha definitiva. E tudo mudou no Moinho do Maneio. 

Foto: Moinho do Maneio

A primeira avalanche fez-sentir pelo ‘passa-palavra’. “Sempre que alguém dormia lá, passado uma ou duas semanas vinham os amigos”. Depois foi a comunicação social, que debruçou a sua curiosidade sobre o empreendimento turístico que decidiu meter clientes a dormir numa bolha insuflável. Depois apareciam aqueles que que viam as imagens nas redes sociais. Outros, visitavam o sítio e decidiam espontaneamente que “iam ter de dormir ali”. A taxa de ocupação da bolha foi subindo e hoje ronda os 100% nos meses de Verão. “Mesmo na Primavera, os sábados esgotam logo”, afirma Anabela. Três anos volvidos, recorda com um largo sorriso o “feliz dia” em que decidiram avançar com a aposta arrojada. “Se eu gastasse em publicidade o que gastei na bolha, não tinham um quinto da visibilidade”. 




Para além de portugueses e muitos espanhóis, a bolha já atraiu gente de todo o mundo. Norte-americanos, chineses, ingleses, holandeses, belgas, israelitas, australianos. Um fascínio que não se limita a derrubar fronteiras. Anabela considera-o intemporal. “Acho que desde pequeninos todos temos um encanto especial pelas estrelas, os velhos sonhos de ser astronautas e explorar o espaço”. Na mesa de cabeceira da cama está um livro, "Roteiro do Céu", com dicas úteis para reconhecer constelações. Anabela acrescenta mais algumas: “Desliguem as todas as luzes e deixem-se deslumbrar, seja com o brilho da Ursa Maior ou com a lua a aparecer atrás das árvores”.
A bolha está assente numa plataforma de madeira, rodeada por copas de árvores e com vista para a Ribeira do Bazágueda. A privacidade é total. Está situada num dos recantos da propriedade e para lá chegar é preciso seguir um carreiro, que tem um pequeno sinal de “trânsito proibido” sempre que ela está reservada. 

Foto: Moinho do Maneio

A natureza idílica desse alojamento torna-o apetecível para celebrar ocasiões especiais. Já acolheu comemorações de bodas de prata, inúmeros aniversários e até um pedido de casamento. “Fomos cúmplices do noivo e preparamos tudo como ele tinha idealizado, ela ficou tão feliz, foi muito giro”, relembra Anabela. Seja quando descreve estes episódios ou quando dá a conhecer o seu empreendimento, o seu rosto irradia felicidade. Houve sacrifícios ao longo do caminho, imprevistos, derrapagens. “Somos só dois e nunca metemos este nosso sonho em causa, sempre sentimos que se fosse preciso sacrificar algo, sacrificava-se e no final, tudo iria dar certo”. Hoje, o seu despertador é o zurro dos burros, vivem na companhia de animais felizes, rodeados por natureza e conhecem pessoas interessantes de todos os cantos do país e do mundo. Nos jardins há imensas pedras com palavras escritas em tons coloridos. Saúde, paz, amor, alegria, tranquilidade, tolerância. E a roxo, junto a um vaso com petúnias, ‘gratidão’. Anabela sorri mais uma vez. “Sim, definitivamente, deu certo!” 


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