18 de fevereiro de 2019

O Empreendedorismo Turístico dos Alunos da ETAP: Ideias, testemunhos & ambições


“Da ideia à ação” foi o mote lançado pelo evento EmpreendeTu, organizado pelos finalistas dos cursos de Turismo e Vendas da Escola Tecnológica Artística e Profissional de Pombal (ETAP). O evento decorreu no Teatro Cine de Pombal e, para além de nós, contou com a presença de vários convidados: a vereadora Ana Gonçalves, do Município de Pombal, João Paulo Lopes, diretor pedagógico da ETAP e Rui Rua, da empresa Culnatur - animação turística. 


Perante um miniauditório completamente recheado, João Paulo Lopes abriu as hostilidades com uma questão: “Alguém tem noção das características principais de um empreendedor”?
“Ter uma ideia”, alguém sugeriu na plateia. “Há estudos que dizem que temos 60 mil pensamentos por dia”, ripostou o diretor pedagógico. “Passar da ideia à prática é o mais difícil”, complementou. De seguida, elencou essas características. Atribui-lhe um número: cinco. “Iniciativa, planeamento, autoconfiança, liderança e perseverança”. A última divide os holofotes com a resiliência. “Poucos tiveram sucesso à primeira, os erros são para ganhar experiência, o sucesso vem mais à frente”.
O seu discurso motivacional antecipou a apresentação de quatro Provas de Aptidão Profissional (PAP) empreendedoras. 


Tatiana Armeiro foi a primeira a subir ao palco, com a sua ideia de negócio “SmartKey – A key for a better future”. A aluna propôs uma aplicação para smartphones que substitui os cartões de plástico que abrem os quartos dos hotéis. “Uma inovação que garante sustentabilidade económica e ecológica”. Informou que os atuais cartões demoram entre “50 a 450 anos” a decompor-se. “Em Portugal há 649 hostels, 1606 hotéis, 114562 quartos. Dois por quarto, dá 229124 cartões. Pensem na Smartkey da próxima vez que usarem um”. 


Seguiu-se Inês Silvestre, com o seu “Trail Pack”, um kit portátil com produtos essenciais para a prática de pedestrianismo. O conteúdo ainda está em análise, mas Inês avança alguns elementos já definidos: Um apito, um documento com números de emergência, estojo de primeiros-socorros, alimentos chave – estipulados por nutricionistas – para situações especificas, como quebra de tensão ou o cansaço, entre outros. “Os imprevistos acontecem e nós queremos ajudar a suprimi-los”. Rui Rua, sentado na extremidade da mesa, solta um largo sorriso perante esta frase. Será descortinado mais lá para a frente. 


“Travelling Bag Storage” foi o projeto seguinte, de autoria de João Costa e que propõe a instalação de cacifos ou outros compartimentos similares com abertura via smartphone, em zonas estratégicas das cidades, de forma a solucionar “as dificuldades de transporte e armazenamento de bagagens dos turistas” e garantir aos mesmos “maior mobilidade e usufruto nas suas viagens”. 


Por último, Lucas Dias desvendou o mistério por trás do seu enigmático projeto: “Locked Room” e deixou bem patente a sua determinação em trazer para Pombal esta popular atividade de turismo experiencial que são os escape rooms. Após uma breve introdução relativa à invenção da atividade, Lucas partilhou a sua primeira experiência trancado numa destas salas, no Escape Room Leiria, cuja história contámos no terceiro capitulo da nossa reportagem: “Turismo Experiencial (des)tranca Portas no Centro”, onde reunimos informação sobre todos os escape rooms da zona Centro do país.


Após esta apresentação, a vereadora Ana Gonçalves iniciou a sua intervenção, “O Empreendedorismo e o Município”. 
Começou por contar uma história que ilustra a sua veia empreendedora, relembrando os tempos da sua infância na aldeia de Vila Cã, considerada a aldeia mais antiga do concelho de Pombal ainda habitada. “Nos fins-de-semana, acordava cedo e com a manhã ainda cheia de orvalho, ia para o campo apanhar caracóis e caracoletas, que reunia num saco de rede e que depois vendia ao quilo, à porta da igreja, antes da missa”. Com a nostalgia ainda resplandecente no olhar, Ana Gonçalves salientou o quanto é importante “ter iniciativa” e “não ter medo de arriscar”. De seguida, lançou um desafio à plateia, englobando, particularmente, Lucas Dias e a sua ideia de negócio. “Temos 30 antigas escolas primárias sem utilização. Queremos que este património municipal seja aproveitado por jovens com ideias inovadoras e transformado em fontes turísticas para as respetivas freguesias”. 


Sublinhou também a necessidade da cidade em ter mais guias locais, que desenvolvam atividades experienciais em redor das atrações de Pombal. “Acreditar no vosso potencial é fundamental”, sentenciou. 


Seguidamente, Gonçalo Gomes, do Apoio ao Investimento Turístico do Turismo Centro de Portugal (TCP), sob o tema “Empreendedorismo no Turismo”, começou por convidar os alunos que apresentaram as suas PAP's para participarem no Concurso de Empreendedorismo Turístico/Prémio José Manuel Alves, tendo em conta o nível elevado dos projetos criados, a par de muitos dos que têm concorrido não só ao nosso concurso, como aos que estão a ser apoiados pelo Turismo de Portugal e que têm associados programas de aceleração extensos, como o Newton, o Tourism Up ou o Tourism Creative Factory, de que poderão beneficiar para aperfeiçoar as suas ideias de negócio em próximas edições.
"Todos estes projetos conseguiram detetar corretamente carências que existem no mercado e desenvolver soluções viáveis para necessidades sentidas pelos turistas", afirmou. 


A última intervenção do evento, “Testemunho de Empreendedor”, coube a Rui Rua, um pombalense de gema, que rumou a Coimbra para estudar e depois arranjou forma de regressar à sua terra e criar o seu próprio emprego. Para além de fundar a Culnatur, uma empresa de animação turística que organiza programas de lazer (caminhadas, paintball, jogos tradicionais, workshops) e cria merchandising (ímanes, canecas, porta-chaves, cadernos de encadernação tradicional e artesanato local), é também professor da ETAP, onde leciona a disciplina Operações Técnicas em Empresas Turísticas. 
O empreendedor partilhou as várias etapas da sua caminhada, da conceção da ideia à sua materialização. 


Apostando numa divulgação criativa e dinâmica e no estabelecer de sinergias locais, a Culnatur – cuja denominação advém do facto de, em todas as suas atividades, Rui privilegiar a ligação entre a cultura e a natureza – rapidamente ganhou notoriedade. O primeiro evento que organizou, uma caminhada nos passadiços do Paiva para 60 pessoas, em Maio de 2016, esgotou. Para além da injeção de confiança, levou outra que ainda hoje reforça o sistema imunitário do seu espírito empreendedor. No decurso do trajeto, houve uma paragem junto à margem do rio Paiva, conhecido pela sua corrente forte, facto que o torna um destino popular para a prática de rafting. Em determinado momento, Rui vislumbrou algo colorido à distância, a descer a toda a velocidade o caudal do rio. “Alguém já perdeu um chapéu”, pensou para si. Um pensamento que durou três segundos, até ouvir, bem alto, atrás de si: “Rui, Rui, a minha tia caiu ao rio”. Felizmente, o incidente teve um desfecho positivo (a senhora foi resgatada ilesa) e vacinou, desde cedo, Rui para lidar com a gestão de conflitos.
Com a audiência cativa das suas palavras, soltou uma última frase. “Se eu empreendi, empreende tu também”. 


No culminar do evento, a aluna de Turismo Flávia Rodrigues lançou um desafio de team building. Ergueu um globo azul de plástico e, antes de o arremessar para a plateia, desafiou quem o agarrasse a dizer a primeira palavra que lhe viesse à cabeça relacionada com empreendedorismo. A audiência recebeu o desafio com entusiasmo e o globo saltou de mão em mão. Com muitos risos à mistura, destacaram-se expressões como “determinação”, “foco”, “dinamismo”, “inovação”, “criatividade”. E “ação”.

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