Faltavam seis meses para o novo milénio. As empresas estavam em pânico por causa do bug Y2K e dos potenciais danos que podiam ocorrer nos seus sistemas informáticos. Havia até quem acreditasse que o mundo ia chegar ao fim. No meio de toda essa confusão, Octávio Teixeira disse basta. Estava farto de “andar sempre a mil”, a gerir o departamento informático de um grupo de três empresas. Era a sua responsabilidade garantir que todas as redes e todos os utilizadores, fixos e móveis, tinham acesso ao sistema interno da empresa e que as comunicações com empresas noutros países se processavam normalmente. O seu horário era refém dos problemas que surgiam. Era comum resgatarem-no da cama a meio da noite. Octávio decidiu que esse seu mundo tinha de acabar. Ia inaugurar um novo, cheio de aventuras e natureza. Dezanove anos depois, a sua decisão seria premiada no concurso de empreendedorismo turístico José Manuel Alves, do Turismo Centro de Portugal.
O diálogo com o administrador geral não foi fácil. “Tive alguma dificuldade em que ele entendesse que eu me ia mesmo embora, não só da empresa como do sector. Ele pensava que eu ia para a concorrência e ofereceu-me mais dinheiro até que por fim lá percebeu, incrédulo, que eu ia mesmo abandonar a área”, refere Octávio. Nessa caminhada, foi ainda seduzido por outra proposta de trabalho, com o dobro do vencimento, mas não alterou a sua rota. Não ia voltar a ficar preso num gabinete. Ia ser nómada.
Apaixonado por “aventura, animais e natureza”, o ex-paraquedista e ex-escuteiro inaugurou a empresa Nómadas - Turismo de Aventura, que organiza caminhadas na montanha, passeios de bicicleta, rafting, canyoning, rapel, entre outras atividades na região Centro de Portugal.
Em 2015, sediou a empresa em Vouzela. Passou os primeiros dois anos a reconhecer o território e criar produtos turísticos para vender. “Essencialmente percursos pedestres temáticos ligados ás atividades das gentes serranas e percursos de bicicleta e de 4x4”. Quando já estava a ultimar algumas atividades para começar a comercializar, surgiu o incêndio de Outubro de 2017, que atingiu 75% da área daquele concelho. “De um dia para o outro, todo o nosso trabalho ficou reduzido a cinzas”, afirma Octávio. “A primeira vontade foi irmos embora e procurar outro território para trabalhar. Passado o choque inicial, começámos a pensar o que é que podíamos fazer com o resto do território”.
Durante uma dessas deambulações pela floresta, Octávio reparou que alguns eucaliptos gigantes tinham sobrevivido às chamas, na Mata da Nossa Senhora do Castelo. Foi nesse instante que teve a ideia de criar um parque aventura diferente, em que todos os desafios estão acima do solo, suspensos em árvores. “Na Europa, só havia algo parecido na Alemanha e nos países bálticos, mas com passadiços aéreos assentes em estruturas artificiais de cimento ou ferro, em vez de pontes suspensas”, assegura Octávio. “Igual ao que queremos montar, só na Nova Zelândia, Austrália, Costa Rica, Canadá e Bornéu”.
Entusiasmado, Octávio delineou todo o projeto, que intitulou Eco Sky Park. Planificou atividades “inovadoras e pioneiras em Portugal”, procurou apoios e, inclusivamente, submeteu uma candidatura ao Turismo de Portugal para fundos.
Nessa altura, enquanto navegava no Facebook, soube dos prémios de empreendedorismo turístico José Manuel Alves, do Turismo Centro de Portugal. Nessa mesma semana candidatou-se. “Queria perceber até que ponto era um projeto interessante quando fosse analisado por pessoas que lhe fossem alheias e com formações e sensibilidades diferentes”.
A resposta que obteve não podia ter sido mais elucidativa. O Eco Sky Park foi o grande vencedor da terceira edição dos prémios, tendo recebido o galardão no fórum Vê Portugal, realizado em Maio de 2018 na Guarda.
“Fiquei muito contente com a distinção. Acho que é uma iniciativa importante pois é uma forma de trazer à luz projetos que podem andar por aí na obscuridade e que eventualmente podem ser muito interessantes. Não é o dinheiro do prémio que faz diferença mas sim o seu reconhecimento”, atesta Octávio.
O empreendedor afirma que o seu projeto, neste momento, aguarda que o Turismo de Portugal “aprove a candidatura submetida em Dezembro de 2017”, de forma a poder avançar com as fases de “construção, divulgação e exploração”.
Um processo que Octávio gostaria de ver concretizado pois destaca que Vouzela, presentemente, “não tem qualquer oferta turística estruturada com base na Animação Turística” a qual, sublinha, depende “quase completamente da regeneração da natureza, o que vai levar anos”.
O projecto Eco Sky Park, explica Octávio, antecipa-se a esse processo regenerativo e pode ser implementado a curto prazo. “Por isso é que acho importante apoiá-lo, não só para nós mas para todos os agentes económicos da região ligados, directa ou indirectamente, ao turismo”.
O Concurso de Empreendedorismo Turístico / Prémio José Manuel Alves é organizado pela Entidade Regional do Turismo do Centro de Portugal desde 2016 e destina-se à deteção e apoio a projetos inovadores no setor do Turismo com implementação na região Centro de Portugal, sendo atribuído ao vencedor o Prémio José Manuel Alves, em homenagem ao percurso do ex-presidente da Região de Turismo do Centro, que esteve na génese da criação do gabinete de Apoio ao Investimento Turístico, na região Centro de Portugal.
Nota: A foto principal deste artigo é relativa a uma atividade no Redwoods Treewalk, na Nova Zelândia, um dos empreendimentos de conceito similar que serviram de inspiração para o desígnio que Octávio Teixeira pretende implementar em Vouzela.