7 de novembro de 2016

Jornal Público | 07-11 | Projectos entre empresas e universidades dispararam 72% no último ano


A relação entre as empresas portuguesas e as instituições do sistema científico e tecnológico está cada vez mais íntima e intensa. A primeira chamada para apresentação de projectos do anterior quadro de fundos estruturais, o QREN, mereceu o interesse de menos de 100 consórcios que envolviam 90 empresas; sete anos depois, na primeira chamada do Portugal 2020, o número de propostas aumentou 35%, o investimento envolvido subiu 32% para 240 milhões de euros e o número de empresas cresceu para 270. E do ano passado para 2016, essa tendência explodiu: o número de candidaturas de consórcios de empresas, faculdades e centros de investigação apresentadas este ano aos programas de financiamento para a inovação e para a incorporação de ciência e tecnologia do Portugal 2020 quase duplicou, passando de 274 para 472 propostas apresentadas (mais 72%).

Estará a haver uma mudança de fundo no perfil das empresas nacionais, que subitamente as torna mais interessadas nos contributos que as universidades ou os chamados “centros de interface” lhes podem dar? José Carlos Caldeira, da Agência Nacional de Inovação (ANI), que gere e acompanha os projectos de Investigação e Desenvolvimento Colaborativo e dinamiza o “empreendedorismo de base científica e tecnológica” até à sua fase de financiamento não duvida: “Estamos a sentir uma evolução muito positiva”.

Considerando as empresas que responderam à primeira chamada para apresentação de projectos no âmbito do Portugal 2020, a ANI constatou que metade das 270 estava a investir pela primeira vez na incorporação de ciência e tecnologia nos seus produtos ou processos. E quase um quarto das empresas tinha nascido há menos de três anos. “A transferência de tecnologia para a economia está-se a valorizar e a aprofundar. Há uma série de ideias pré-concebidas sobre esse processo que começam a perder a validade do passado”, explica José Carlos Caldeira, um engenheiro que trabalhou no INESC TEC e acumula um longo currículo na ligação entre a universidade e as empresas. "Há muito que tínhamos percebido que a ligação entre o sector privado e as instituições de investigação iria aumentar. Mas não na escala actual”, diz o presidente da ANI.

A adesão das empresas a consórcios para obtenção de financiamento destinado à ciência e tecnologia não se verifica apenas nos eixos do Portugal 2020. Também começa a haver uma pequena revolução nas candidaturas directas de entidades nacionais ao programa europeu Horizonte 2020, que dispõe de 78 mil milhões de euros para reforçar a incorporação de conhecimento na economia da União.

Até 2010, os projectos portugueses apresentados ao programa ficaram sempre abaixo de 1% do financiamento global europeu – nesse ano, os consórcios portugueses receberam 58,8 milhões de euros de financiamento. Mas, depois de 2010, os cortes nos programas científicos nacionais “obrigaram-nos a concorrer aos fundos europeus”, nota José Manuel Mendonça. Em 2012 os portugueses receberam já 109 milhões de euros, em 2014 145,4 milhões, e se no ano passado houve um recuo, este ano Portugal obteve já 70,1 milhões de euros quando faltavam ainda distribuir metade das verbas do programa.

No eixo do Horizonte 2020 para as pequenas e médias empresas, Portugal contava no segundo trimestre com 49 projectos aprovados, o que coloca o país no top 10 dos países com mais candidaturas aceites, de acordo com o Diário de Notícias. “As empresas perderam o medo de concorrer com os europeus”, nota José Manuel Mendonça.

O impacte económico desta dinâmica “só se faz sentir a médio prazo”, avisa José Carlos Caldeira, mas, para já, o que vale a pena sublinhar “é uma nova atitude quer das empresas, quer do sistema científico e tecnológico”. No caso das universidades e centros de interface, o recurso aos fundos estruturais ou ao Horizonte 2020 tornou-se crucial para poder manter os seus quadros – desde a crise, o INESC TEC quase duplicou as suas receitas, de nove para 16 milhões de euros. Nas empresas, a mudança tem razões ainda mais profundas. Em primeiro lugar, o que as move é o sentimento de que têm de sobreviver na exportação, onde o mercado é mais competitivo. Mas há outra razão crucial: “nas empresas, sejam de sectores tradicionais ou não, há uma nova geração, com mais qualificação e com mais mundo”, conclui o presidente da ANI.





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