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4 de abril de 2019

Os resultados do projeto Plowder: uma ferramenta pioneira para monitorização dos territórios de baixa densidade


No final do Verão de 2017, uma equipa multidisciplinar de investigadores abraçou uma missão pioneira em Portugal: Desenvolver uma ferramenta inovadora de monitorização para estudar e analisar o impacto económico e social dos territórios de baixa densidade em geral, e das Aldeias Históricas de Portugal (AHP), em particular. O objetivo era definir um conjunto de indicadores para avaliar o impacto económico e social das atividades turísticas das AHP. A equipa - constituída numa parceria entre o Turismo Centro de Portugal, as Aldeias Históricas de Portugal, o Instituto Politécnico da Guarda e o Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro - intitulou o projeto de Plowder e meteu mãos à obra. Ontem, após 18 meses de investigação, foram apresentados oficialmente os resultados, num seminário que decorreu no Hotel Inatel Linhares da Beira, situado naquela que é uma das 12 aldeias históricas do país. 

Entre as conclusões do estudo, ficou-se a saber que o orçamento médio de cada visitante das aldeias da rede das AHP "é de 546,95 euros" e também que, em média, os visitantes ficam alojados “entre um a dois dias, visitando, em média, três aldeias". 


Carlos Santos, investigador responsável do Plowder, destaca a natureza “absolutamente pioneira do projeto, uma vez que foi criado com o objetivo de dar resposta às lacunas na recolha de informação estatística nos territórios de baixa densidade, em especial à falta de dados qualitativos". 
O investigador explica que foi definida uma framework de análise que classifica um conjunto de indicadores segundo dois tipos de dimensões: caracterização e agregação, que englobam indicadores de dimensão económica, social, ambiental, habitabilidade, viabilidade, equidade, sustentabilidade, ecossistema, bem-estar, satisfação, cultura, vitalidade económica, emprego, marketing e mobilidade e acessibilidade. 


Carlos Santos destaca a “validação de todo o framework de análise e dos indicadores em duas sessões de focus groups, junto de agentes económicos, agentes autárquicos, académicos e residentes" e a implementação da ILDA, "uma plataforma digital para recolha, tratamento de dados e produção de indicadores”. O investigador salienta ainda que o projeto “dá resposta a uma manifesta necessidade dos territórios de baixa densidade, em particular as Aldeias Históricas de Portugal, produzindo indicadores com granularidade adequada a estes territórios”. O grande objetivo, assume, consiste em manter a exploração da plataforma criada, sistematizar a recolha de dados e até, eventualmente, replicar o programa noutros territórios de baixa densidade nacionais. 


A sessão de abertura do evento contou com a participação de Paulo Jorge Ferreira, reitor da Universidade de Aveiro, Manuel Salgado, vice-presidente do Instituto Politécnico da Guarda, António Robalo, presidente das Aldeias Históricas de Portugal e Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal. 


Na sua intervenção, Pedro Machado destacou a importância da aquisição de dados e da transferência de conhecimento, sobretudo em matéria de turismo. 
“É muito importante perceber que 20% da receita do país hoje advém da atividade turística, mas a realidade é que há ainda muito pouca informação sobre turismo em Portugal. É importante termos dados para percebermos o que estamos a fazer”, frisou, salientando que “estes dados são também importantes para os destinos, na definição da estratégia dos próximos três anos”. 


Segundo Pedro Machado, a ideia de sustentabilidade “não pode ser apenas um chavão”. “Ela está materializada num conjunto de objetivos que assumimos para 2019, 2020 e 2021. Queremos aumentar as receitas e precisamos de alargar o turismo a todo o território. Atualmente temos uma hipermassificação turística em três destinos: Algarve, Lisboa e Madeira. O país foi promovido durante décadas como um destino de sol e praia, o que provocou dois problemas estruturais: o monoproduto e a sazonalidade. Por isso, alargar o turismo a todo o território é um grande objetivo”, assumiu, salientando que destinos como o “Centro de Portugal, o Alentejo e os Açores têm hoje crescimentos acima da média precisamente porque escapam à tendência que foi promovida durante tantos anos. Temos de criar condições para que todo o território tenha a mesma capacidade de receber os fluxos turísticos”, sublinhou. 


“Assumidamente, o luxo do Século XXI está nestes territórios. Percebemos hoje que os novos turistas, de perfil médio-elevado, o procuram a segurança, o silêncio, a diferenciação, a autenticidade. Temos isso nestes territórios”, garantiu Pedro Machado. 


O evento prosseguiu com um painel dedicado ao enquadramento, metodologia e apresentação dos resultados do projeto, que contou com a participação de Ana Melo, que elucidou a plateia sobre o enquadramento, framework de análise e indicadores, com Rui Marques, que abordou a Plataforma ILDA e Ricardo Biscaia, que apresentou e discutiu os resultados obtidos. 


Posteriormente, foram debatidas questões relativas à sustentabilidade dos territórios de baixa densidade, num painel constituído por Patrícia Araújo, representante em Portugal do Instituto de Turismo Responsável e dos Referencias Internacionais Biosphere Responsible Tourism, Adriano Costa, docente e investigador da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Instituto Politécnico da Guarda e Jorge Brandão, representante da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC). 


O investigador Carlos Santos encerrou a sessão, sublinhando que o programa permitiu concluir que “os alojamentos mais procurados pelos turistas são os existentes no espaço rural” e que “a maior motivação dos visitantes relaciona-se com o património histórico e cultural do concelho onde se situam as Aldeias Históricas, seguida do contacto com a natureza e com a ruralidade". 
Carlos Santos informou ainda que, segundo os dados apurados, a maioria dos residentes está “satisfeita ou muito satisfeita” com o impacto do turismo na sua aldeia.

A equipa do Projeto Plowder