Páginas

1 de março de 2019

Aspirações de um futuro empreendedor turístico



Está sentado na primeira fila. Fato escuro, gravata verde e o olhar focado no púlpito dos oradores. Há momentos, uma frase fê-lo sorrir e acenar a cabeça em concordância: “Mais vale ter quatro ou cinco anos de sacrifício e ter uma vida feliz, do que ter quatro ou cinco anos de divertimento para depois ter uma vida de sacrifício”. Para ele, uma vida feliz é uma carreira na área do turismo. E está preparado para enfrentar os sacrifícios para lá chegar.

André Ferreira tem 19 anos e é um dos 13 alunos do 12º ano do curso Profissional Técnico de Turismo da Escola Secundária Dr. João Manuel da Costa Delgado, na Lourinhã, que organizaram o evento “Emprego e Formação da Região do Centro Relacionado com o Turismo”, que decorreu na passado dia 25 de Janeiro na referida escola e contou com a presença do Apoio ao Investimento Turístico. (Se quiser saber mais sobre esse evento, clique aqui).

E André quer investir no turismo. Para já, investe tempo. Viveu a vida toda na Praia da Areia Branca, na Lourinhã. Uma praia de eleição para surfistas e de onde se avistam as Ilhas Berlengas, nos dias de céu limpo. É lá que costuma passar parte dos seus tempos livres, em convívio com os amigos ou a passear os cães, Óscar, Julieta e Teresinha. De resto, está atarefado com as obrigações escolares da turma do 12ºF. “Nos últimos três anos a carga de trabalhos escolares aumentou consideravelmente”, revela. 

As suas disciplinas favoritas são Inglês e Espanhol. Mais um detalhe a induzir a inclinação para a área. A inclinação é inata. Desde que nasceu que está familiarizado com o quotidiano hoteleiro. A sua família é proprietária do Hotel D. Lourenço, localizado nessa mesma praia. O avô ergueu-o, “a partir do zero”, em 1981. Anos depois, acrescentou-lhe um café. Mais tarde, o pai e um tio deram continuidade à expansão e inauguraram um restaurante. Talvez a próxima etapa pertença a André. Ideias não faltam. Só falta prosseguir e concluir os estudos.



“Depois de acabar o Curso Profissional de Técnico de Turismo, quero integrar o curso de Gestão Hoteleira no Instituto Politécnico da Guarda (IPG)”. A preferência surgiu após uma visita à Futurália, feira de educação e formação em Lisboa. “De todas as faculdades essa foi aquela com que me identifiquei mais”. Ficou longos minutos no stand do IPG, a fazer perguntas e a analisar o plano curricular. Agradou-lhe, particularmente, a componente prática. “Acredito que um profissional de turismo tem que saber fazer para saber mandar”.

Ansioso, André não vê a hora de começar o curso. Até já idealiza o estágio. “Quero ganhar experiência de trabalho em países estrangeiros de modo a alargar os meus conhecimentos e poder implementá-los cá”. Almeja vários: Estados Unidos, Amesterdão, Escócia, Irlanda. “São países que oferecem diferentes experiências”. Faz uma pausa e complementa, sorridente: “E que eu sempre quis visitar”.

Nessa fome por novas experiências, sente especial expectativa pela vertente da inovação. “É fundamental em Turismo para que este possa corresponder às necessidades e tendências dos vários públicos, gerando negócios bem sucedidos”. Defende o recurso à tecnologia por motivos ecológicos, para reduzir custos e para facilitar a estadia ao cliente. “Basicamente, ligar aquilo que se pretende ser novidade com o que os clientes procuram. Neste aspeto, o conhecimento em tecnologias é fundamental para equipar uma unidade hoteleira moderna, não só no próprio funcionamento da mesma, no proporcionar de um serviço mais eficaz, mas também para garantir um acesso fácil e rápido às necessidades dos clientes.”



André destaca o “uso inovador da tecnologia” para “controlar a dinâmica de um hotel”. Para um estudante que valoriza a componente prática, não podiam faltar exemplos práticos. “Em vez de os empregados irem, continuamente, à cozinha perguntar quanto tempo falta para uma refeição específica estar pronta, podiam haver duas telas digitais, uma na cozinha e outra na sala do restaurante, ambas conectadas para o empregado estar a par do tempo que falta para cada refeição estar preparada”.

Nitidamente entusiasmado, prossegue: “Também seria interessante os hóspedes poderem controlar os aparelhos eletrónicos do quarto a partir do seu telemóvel, através de uma aplicação disponibilizada pelo hotel que, para além de inúmeras outras funções, até permitiria abrir a porta do seu quarto”.

As palavras e o olhar, ambos cheios de sonhos e acelerados rumo a um horizonte ainda por descortinar, perduram durante alguns instantes, até serem refreados pelo próprio jovem. Ergue o dedo indicador, num gesto prudente e instrutivo, e ressalva: “No entanto, penso que a tecnologia não deverá ser ‘invasiva’, ou seja, desvirtuar as características culturais das regiões. Deve-se ter em atenção a localização geográfica e a contextualização cultural da região em causa, para que não existam choques entre a entidade, o local e os possíveis utilizadores”.

Há uma pequena pausa, seguida por um sorriso. “Mas isso são degraus para o futuro”, diz André, enquanto volta a pisar o travão ao idealismo. “Para já, o degrau mais importante a subir é a conclusão do 12º. Depois está uma vida cheia deles”.

Daqui a alguns anos, estaremos cá para ouvir e partilhar todo esse percurso rumo ao sonho do empreendedorismo turístico.