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27 de julho de 2018

Status update: "Nunca é tarde"


“Catorze vezes por dia”. Há olhares arregalados na sala, impressionados com o número. Já outros, emanam um brilho cúmplice de concordância. “Consultamos, em média, 14 vezes por dia o nosso Facebook”, reforça Marco Barruncho, o formador da sessão “Gestão de Redes Sociais”, dinamizada na incubadora de negócios Alvaiázere + pela Tourism Up Centro, programa de aceleração promovido pelo Turismo Centro de Portugal e pelos Territórios Criativos. 



A sala está cheia de empreendedores do sector turístico movidos pela vontade de perceber o funcionamento das redes sociais e definir estratégias de presença online. “Qual a diferença entre os hashtags no Facebook e no Instagram?”, questiona, de forma enérgica, uma senhora na fila da frente. É a quarta questão que coloca e aponta minuciosamente todas as respostas num caderninho A5. Estela Costa tem 77 anos e é proprietária do estabelecimento de alojamento local Quinta das Maçãs, na freguesia de Maçãs de Dona Maria, em Alvaiázere. Converteu a propriedade ao turismo em 2016 e este ano decidiu aderir às redes sociais para dinamizar o estabelecimento. “Tenho uma página do Facebook, mas não a sei gerir. Quero atualizar-me, pois a casa é muito especial e merece ser mais divulgada, ser dada a conhecer a mais pessoas”. Quando pronunciou a palavra “especial”, os olhos azuis claros - quase vítreos - de Estela soltaram uma fagulha de entusiasmo. A sua ligação à casa remonta a meados do século XIX. Nos seus alicerces, há uma história de amor. 



Augusto da Costa percorria as calçadas históricas da baixa de Coimbra todos os dias, com a bíblia debaixo do braço. Estudava no seminário e sonhava ser padre. Quando estava prestes a ser ordenado, apaixonou-se por uma mulher de Maçãs de Dona Maria, Joaquina Marques. Casaram e decidiram aproveitar um velho abrigo de pedra no centro dessa vila, onde eram alimentados os pobres no passado, para construir a sua casa. Em 1856, estava erguida. Uma casa anormal para a época, com salões espaçosos em vez de múltiplas divisões exíguas.

Abandonado o sacerdócio, Augusto tornou-se Juiz de Paz, um magistrado que resolve contendas regionais através da conciliação. Em frente à entrada principal da casa foram erguidos dois pilares de pedra, que serviam de refúgio. Se alguém estivesse a ser perseguido, a partir do momento em que tocasse num dos pilares ninguém lhe podia fazer mal, ficando sob a alçada do Juiz de Paz. 

Augusto e Joaquina tiveram três filhos. Um deles, decidiu construir um anexo junto à casa para a sua família. Esse filho era o pai do marido de Estela. E esse anexo, é hoje a Quinta das Maçãs. Um espaço com quatro quartos, jardim, piscina e vista para as montanhas. A casa original, apelidada carinhosamente por Estela de “casa velha”, será restaurada em breve e convertida igualmente ao turismo. Serão preservados muitos dos seus traços históricos, como a “escada monumental” - alcunha que Estela dava à enorme escadaria de madeira que liga aos dois salões do primeiro andar - ou a placa de metal que ainda perdura no topo de uma das portas, com inscrições em latim datadas de 1779, com alusões à natureza solidária do primeiro espaço. 




“Todo esse passado, todas essas histórias merecem ser aproveitadas e divulgadas em conformidade”, afirma Estela. Daí a sua presença entusiástica nesta sessão, da qual teve conhecimento por ser associada da Adeca - Associação de Desenvolvimento Integrado do Concelho de Alvaiázere. Tem deparado com algumas dificuldades, que enfrenta com inúmeras questões e uma indomável vontade de explorar este “admirável mundo novo” da comunicação. “Sou de uma geração a quem o Facebook é uma novidade total, mas fiz questão de aderir. E ao Instagram também, porque os meus netos já fogem todos para o Instagram”. 



Marco sorri a cada nova questão. “A Estela é um excelente exemplo de que nunca é tarde para conhecer e aprender, está a ser das pessoas mais dinâmicas na sessão”, afirma. Complementa: “Não sendo uma geração que nasceu com estas ferramentas, é mais complicado aprender determinados conceitos, mas estamos sempre a tempo. Queremos que este tipo de sessões sejam abrangentes, apanhem todo o tipo de público, pois é importante acompanhar a tecnologia e estarmos cada vez mais todos interligados”. 



Essa interligação foi demonstrada num exercício com uma analogia, onde um novelo de lã foi sendo desenrolado de mão em mão até passar por todos os elementos da sala. Marco explica que é essa a capacidade das redes sociais. Interligar milhares de pessoas com meios que estão à distância de um click. “São ferramentas gratuitas que estão ao dispor dos empreendedores e que podem potenciar as suas empresas/marcas. É importante tirar o máximo proveito das mesmas e saber como rentabilizar os conteúdos que publicamos para chegar ao público-alvo que pretendemos”, afirma. 



Estela já aprendeu alguns truques. “Antes noticiava determinado evento na minha quinta e depois não escrevia mais nada sobre ele. Percebo agora a necessidade de dar continuidade, de relembrar, de reatualizar. Também costumava descurar um pouco as fotografias, sou da área das línguas, escrevo os textos, mas já percebi que as imagens não estão a ajudar a passar a mensagem”. Faz uma pequena pausa e desabafa: “A gestão de uma página é muito mais complexa do que parece”.

Marco esboça outro sorriso com o desabafo. Está habituado que essa complexidade seja subvalorizada. “Muitas empresas não têm pessoas com formação específica nesta área, ou se têm, geralmente não desenvolvem essa atividade em exclusividade. Por isso, estas sessões são importantes para dar a conhecer alguns conceitos mínimos e ajudar a capacitar quem assume as rédeas dessa função”, sublinha. 

O som do papel a estalar denuncia mais um virar de página no caderno de apontamentos de Estela. “Está a ficar bem preenchido, não está?”, refere, sorridente, enquanto desenha um círculo em redor de uma frase que destaca a importância de analisar as estatísticas das páginas e orientar a publicação de conteúdos pelas mesmas. A sua motivação é tangível. “Quero saber mais, apostar mais, trazer mais pessoas à nossa quinta, mostrar quem somos e dar a conhecer as riquezas do interior”. 
Coloca a tampa na caneta, projeta o seu olhar cheio de azul para o formador e diz:
“Agora só preciso é de treinar”.